Como as empresas podem compreender um mundo transformado?
Partilhar em LinkedIn
Ao longo do último ano, a liderança política nas democracias do mundo mudou radicalmente, tendo a vitória do Presidente norte-americano Donald Trump sido o exemplo mais dramático — impulsionando mudanças significativas, senão um realinhamento global em larga escala.
Tal como nos Estados Unidos, eleitores demitiram representantes eleitos em toda a Europa (notadamente no Reino Unido e na Alemanha), bem como no Japão, no Botsuana e numa série de outros países onde partidos no poder sofreram pesadas perdas legislativas numa onda anti-incumbência. Mesmo quando os incumbentes se mantiveram, como aconteceu na Índia, venceram com apoio mais reduzido do que no ciclo anterior e muitas vezes com perdas legislativas relevantes, que colocaram em dúvida a sua capacidade de executar as respetivas agendas políticas.
As implicações económicas e de segurança globais da significativa mudança de poder em curso no mundo — e as suas consequências para os negócios — não podem ser subestimadas. Eis cinco temas recorrentes que estão a afetar as empresas:
1) A política está a impulsionar os mercados: Embora os principais mercados acionistas tenham alcançado máximos históricos no início de 2025, recuaram em março, perante receios sobre o impacto que uma guerra comercial poderia ter no crescimento e na inflação. Isso está a gerar nervosismo entre líderes empresariais, cujos planos de investimento, cadeias de abastecimento e estratégias de mercado estão sujeitos a riscos significativos decorrentes de decisões políticas em Washington.
2) As empresas precisam de compreender as dinâmicas políticas: No nosso estudo sobre eleições do ano passado, empresas de todo o mundo afirmaram que choques sucessivos — da Covid à Ucrânia — levaram a uma avaliação mais profunda de riscos políticos e exógenos na tomada de decisão. Em 2025, a análise rigorosa e a compreensão do ambiente externo são mais importantes do que nunca, para que as empresas possam gerir as suas relações com governos e navegar o realinhamento internacional em matéria de economia, segurança e organismos internacionais de cooperação.
3) A Europa considera um novo futuro: Os líderes europeus começam a perceber a diferença da visão deste governo norte-americano em relação ao mundo. O possível fim do compromisso dos EUA com a aliança do Atlântico Norte (pelo menos sob esta administração) representa uma mudança sísmica, e o seu apoio vacilante à Ucrânia tem levado a Europa a procurar soluções que não incluam os Estados Unidos. Tudo isto poderá resultar em mais gastos com defesa e talvez num impulso em direção a uma maior independência em política externa — frequentemente descrita como “autonomia estratégica”. Em temas como o clima e a diversidade, equidade e inclusão (DEI), a Europa poderá também seguir um caminho distinto, uma vez que a liderança dos EUA essencialmente abandonou ambas como prioridades. Isto significará que as empresas globais terão de trabalhar mais arduamente para gerir relações políticas em ambos os lados do Atlântico.
4) A China resiste: Em meio a toda esta turbulência e incerteza, o regime comunista continua a avançar, apoiado pelo confronto entre a Europa e os EUA e pelas guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, e sem se deixar intimidar pelo aumento das tarifas de Trump, respondendo de forma imediata e agressiva. As empresas observam com cautela as implicações políticas, dado que a China é um dos principais fornecedores de bens, e é impossível prever como tudo isto se desenrolará — e quem sairá por cima na disputa entre os EUA e a China, com a Europa e outros países aparentemente apanhados no meio.
5) Será este o novo normal? Essa é a questão milionária — ou, face às implicações económicas, multi-trilionária. Será que todas estas mudanças terão efeito reverso quando os eleitores tiverem nova oportunidade de se pronunciar? Ou este realinhamento súbito é a nova realidade? Com os EUA a liderar grande parte destas mudanças e a eleger um novo Congresso nos próximos 20 meses, poderemos descobrir que, caso os Democratas assumam o controlo, poderão travar fortemente a agenda de Trump, numa eleição que provavelmente será um referendo aos seus dois primeiros anos de mandato. E isso, mais uma vez, poderá ter efeitos em cadeia em inúmeros países e empresas.
Liz Sidoti, Managing Director, Head of Public Affairs
H/Advisors Abernathy
John Rowland, Senior Partner
H/Advisors Cicero